Deixa o frevo rolar, eu só quero saber se você vai brincar.
Rapaz, queria saber como seria o carnaval com músicas novas.
De vez em quando aparece alguém reclamando que não aguenta mais os 15 frevos que se repetem há 100 anos ou as 12 marchinhas que têm quase a mesma idade.
Também já reclamei dos Felintos, das Madeiras do Rosarinho e das Batutas de São José, mas o fato é que acho que o carnaval seria bem diferente com novos hits todos os anos.
O carnaval como a gente conhece é fundamentalmente baseado na repetição e na nostalgia (se é que se pode classificar como nostalgia uma coisa que você nunca parou de ouvir).
Como um mantra, os frevos e marchas se repetem ao longo de nossas vidas e se impregnam no buraco mais encruado da nossa consciência. Acabam moldando sinapses e neurônios de uma forma indelével e se tornam fisiologicamente partes da nossa pessoa. Deixam de ser músicas apenas e se tornam partes de nós, uma parte externa da gente que todo mundo compartilha, um elo que permanece dormente durante o ano inteiro, mas que quando é despertado é com a força de mil vozes em uníssono, entre amigos suados e embriagados compartilhando os momentos mais sinceros de suas vidas.
Não sei como seria o carnaval sem esse elo, sem esse denominador comum. Não sei como seria se espremer atrás de um bloco, bêbado, em um calor infernal, subindo e descendo ladeiras, trocando suores com estranhos, sem ter a experiência reconfortante de que certas coisas são eternas, que não importa quem possa estar ao seu lado, você vai poder levantar o braço, olhar com cumplicidade à meia-pálpebra e gritar pela milionésima vez "Oliiiindaaaaa! Quero cantaaaar a tiiii esta canção..."